O ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, afirmou ontem, em Luanda, que a transladação dos restos mortais do general Arlindo Chenda Pena “Ben-Ben” de Pretória, África do Sul, para Angola corresponde à vontade do Presidente João Lourenço de reconciliar a família angolana e reforçar a unidade de todos os angolanos.
Em declarações à imprensa, momentos depois da chegada dos restos mortais de Ben-Ben, falecido a 19 de Outubro de 1998 na África do Sul, vítima de doença, Francisco Queiroz considerou que o acto se reveste de grande dignidade para a memória de um oficial que atingiu o grau de chefe do Estado-Maior General adjunto das Forças Armadas Angolanas e para a honra da Pátria.
Horas antes, em Pretória, durante a recepção dos restos mortais de Ben-Ben, o ministro angolano disse que o gesto do Governo sul-africano de permitir a transladação dos restos mortais do general para a sua terra natal está em linha com os profundos laços de amizade que unem os povos de Angola e da África do Sul.
Para as Forças Armadas Angolanas (FAA), disse, o acto reveste-se de um grande significado militar, porque se trata de “um camarada de armas que tombou por do-ença e que não teve as honras militares fúnebres que lhe correspondiam”.
Estado do corpo
O ministro explicou que o corpo de Ben-Ben sofreu um tratamento inicial e ficou durante dois anos num processo de congelação e mumificação que durou até ao momento da sua transladação.“Segundo as informações que me deram quando o corpo foi exumado, apresentava condições razoáveis de conservação. Quer dizer que as técnicas que foram usadas para a conservação do corpo são muito eficazes”, contou Francisco Queiroz, que entretanto afastou a hipótese de abertura da urna.
“As pessoas que assistiram à exumação do corpo e à abertura do caixão confirmam que está bem conservado e destacaram um aspecto: ele estava fardado e a farda estava muito bem visível e conservada”, acrescentou.
O assessor para as Relações Internacionais do Presidente sul-africano confirmou que o pedido para a transladação dos restos mortais do general Ben-Ben para Angola foi feito pelo Chefe de Estado angolano, João Lourenço. Khulu Mbaka admitiu que o processo não foi fácil para as autoridades sul-africanas. “Tivemos que encontrar pessoas que conheciam (o falecido) e tivessem informações sobre os restos mortais do general Ben-Ben”, disse.
Khulu Mbaka disse que o Presidente sul-africano, Ciryl Ramaphosa, acredita que este processo vai ajudar na reconciliação nacional e na consolidação da paz em Angola. Acrescentou que a África do Sul acredita também que as relações bilaterais vão ser fortificadas e enaltecidas.
O presidente da UNITA considerou o acto um importante passo para a reconciliação do país. “Temos todos que reconhecer não só o facto de ter sido possível hoje trazer o corpo do general Ben-Ben a Angola, como também tudo se processou de uma forma bastante rápida, quando ao longo desse tempo todo parecia ser impensável fazer-se”, disse Isaías Samakuva.
Para o líder do maior partido da oposição, o próximo passo deverá ser o da recuperação dos restos mortais do fundador da UNITA, Jonas Malheiro Savimbi, falecido a 22 de Fevereiro de 2002. Samakuva reconheceu, no entanto, que a exumação e inumação de Savimbi não será possível ainda este ano porque há questões que têm de ser agilizadas. “Por isso, estamos a olhar para um período para além do fim do ano”, disse.
Para Araújo Pena, irmão mais novo de Ben-Ben, a transladação dos restos mortais do general é uma homenagem à sua mãe, que terá escrito uma carta ao Presidente da República solicitando o corpo. “Isso é reconfortante para uma mãe que perdeu três filhos em circunstâncias dramáticas e ver o seu filho a ser sepultado na sua terra natal”, afirmou.
Araújo Chenda Pena reconheceu que o Presidente João Lourenço fez os contactos com as autoridades sul-africanas devido a um pedido da família, em particular da mãe, Judith Pena.